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Synagogue 1

Carta de Princípios

A Federação Israelita do Rio Grande do Sul é a entidade representativa da comunidade judaica do Estado.

Desde 1904, quando os primeiros judeus, imigrados da Europa, instalaram-se nas localidades de Santa Maria e Erechim, nossas entidades foram estabelecidas e nossa vida cultural e espiritual tornou-se parte do cenário rio-grandense.

A comunidade judaica floresceu e se desenvolveu.

Nossa integração à sociedade rio-grandense é um fato consumado e as novas gerações construíram, ao longo desta trajetória, um novo amálgama, uma identidade: judia, brasileira e gaúcha.
 

Esta experiência histórica é rica e plena de ensinamentos.

Entre eles destacamos nossa preocupação com a educação dos jovens, com a constituição de famílias estruturadas e amorosas, com o desenvolvimento de nossos afetos comunitários, com nosso sincero e profundo desejo pelo bem da sociedade brasileira.
 

Para isso, assumimos compromissos como cidadãos, integrados nas diferentes áreas profissionais e sociais.

Sensibilizados pela conjuntura de crise internacional, onde se destacam em especial os fenômenos do terrorismo, do antissemitismo, da intolerância política, cultural e racial, assim como pelas tensões sociais da sociedade brasileira, a Federação Israelita do Rio Grande do Sul pronuncia-se sobre sua visão dos valores humanos.
 

Tal manifestação é política em essência, leva em conta este legado histórico de um século de integração à vida nacional e refere-se, em especial, à memória e a experiência histórica que o povo judeu adquiriu ao longo de sua trajetória, disperso pelo mundo.

Este decálogo expressa nossa preocupação com diversos fenômenos recentes.
 

Entre eles, no cenário internacional, uma intensa campanha política difamatória aos judeus e ao Estado de Israel; uma indisposição manifesta em contemplar argumentos que revelam o direito à sobrevivência física, espiritual e cultural dos judeus; e uma tolerância crescente e justificadora aos atos de terror político.
 

No cenário nacional, destacamos entre nossas preocupações o desrespeito, por parte de atores variados, à ordem democrática, a difusão em amplos setores de uma propaganda favorável à violência política, assim como ao avanço de visões que, por sua radicalidade e extremismo, tornam-se intolerantes ao diálogo e a negociação.

Por tudo isto, pregamos pelo: Valor da vida. Vemos com dissabor falas redentoras que trazem no seu bojo, na verdade, o espectro da morte, da intolerância e do conflito.

Defenderemos sempre o valor da vida. E denunciaremos o discurso mistificador de guerras santas e os martírios suicidas.

 

Valor da liberdade. Nesta era de crise abre-se mão fácil de tal valor. Afirmam-se outros valores que parecem ser mais caros, urgentes, a custa deste. A história judaica nos ensina, e nos obriga, a afirmar publicamente que não acreditamos ser possível a resolução de qualquer conflito enquanto a liberdade humana, nas suas diversas manifestações, em especial as de expressão, crença, movimento, de empreender e criar, seja limitada por desejo ou imposição de grupos e /ou autoridades.
 

Valor da democracia. A expressão máxima dos valores humanos está consolidada na estrutura política democrática. O preço a pagar por macularmos tal preceito é alto. Os judeus têm sido, por muitas vezes, testemunhas e vítimas deste tipo de atitude, portanto afirmam com vigor a relevância deste valor supremo.

Valor da justiça. Nossa tradição nos deu o Talmud. Nele percebe-se, com clareza, a difícil obra de se obter e fazer justiça. No entanto, sua relevância e alcance revelam igualmente a dignidade de tal labor. Buscar a justiça para tentar obtê-la é o compromisso político que advogamos, apreciamos e desejamos para toda a sociedade.
 

Valor do respeito à diferença. Nossa singularidade e nossa experiência histórica, como judeus, nos permitiram anteciparmo-nos à história. Este clamor, usual em nossos dias, foi o clamor de nossos irmãos em outros tempos, em outras paragens, onde não foram ouvidos nem apreciados. Por isso, acolhemos este preceito. O destacamos como pressuposto à paz social e o elegemos como valor em relação ao qual podemos, e devemos, dar o nosso testemunho: de sua falta emergem todos os males sociais.
 

Valor da liberdade de expressão. O pensamento comprometido com a vida, com a liberdade, com a justiça e com os valores humanos não podem ser sufocados. O esforço humano em decifrar os dilemas da vida merecem proteção. O autoritarismo e o totalitarismo ferem esta regra. Apontam apenas uma verdade e marcam de morte os seres humanos.

Valor de respeito à liberdade religiosa. Os seres humanos sacralizam valores, vivências, memórias e expressam estes sentimentos de forma variada. Vivem vidas simbólicas plenas de significado. Deriva daí esta urgente necessidade de compreendermos o mundo como ele é nas suas diferenças. Desejamos uma sociedade que tolere esta diversidade.
 

Valor do respeito às minorias. A democracia pressupõe a existência das minorias, assim como respeito às diferenças. No entanto cabe ressaltar este tema. Os judeus, à semelhança de outros grupos, são minoria e demandam respeito assim como se exige a todo grupo não hegemônico. O contexto de crise política sempre põe a perigo tal valor e o destacamos aqui para ressaltar que, de fato, é uma das bases fundamentais da democracia.

Valor da solidariedade às comunidades judaicas e ao Estado de Israel. Nossa singularidade inclui, como valores fundamentais, o sentimento de unidade espiritual com os judeus do mundo e com a centralidade histórica e cultural da sobrevivência do Povo Judeu exercido pelo Estado de Israel. Sua segurança nos interessa e seu infortúnio nos abala. Da mesma forma, nos diz respeito o que ocorre com os judeus do mundo. Temos patrimônios e raízes comuns, o que nos dão senso de unidade e os afirmamos, sem medo, para que sejam compreendidos e respeitados.
 

Valor do Estado Democrático de Direito. Somente as garantias individuais proporcionadas por um ordenamento jurídico e constitucional verdadeiramente democrático asseguram o pleno direito à cidadania. Regimes totalitários produzem leis que mutilam e destroem as melhores energias de uma nação. Os judeus, como todos os que amam a liberdade, tem compromisso inequívoco com o este valor.

 

Da mesma forma, e considerando o que se vivencia nos dias correntes:

Repudiamos o terror, pois este é um crime contra os valores básicos de uma sociedade.

O massacre de inocentes não é justificável por causa política alguma. Nossa indisposição a tal barbárie opõe-se ao discurso complacente que circula na voz de certos setores e segmentos políticos do país e do Mundo.
 

Repudiamos o racismo e o antissemitismo. Ambos igualmente proliferam e encontram, de tempos em tempos, guarida junto a diferentes grupos. Sob disfarce de causas nobres, ambos tem florescido, não só no Brasil, mas em diversos outros países e continentes.
 

Repudiamos a mentira.

O compromisso com a verdade é a única postura honesta que valorizamos. Desprezamos, profundamente, a manipulação interesseira, o jogo de palavras que esconde a violência.
 

Repudiamos a corrupção. Trata-se não só da corrupção política e econômica, que ferem a democracia e as Leis, mas igualmente a corrupção das mentes que se nutrem de campanhas panfletárias, simplificadoras e manipuladoras, do jogo de estereótipos frequente na guerra psicológica que testemunhamos.
 

Repudiamos todo e qualquer discurso que contradiga os valores fundamentais acima referidos e que são o legado moral de uma história densa de experiências e ensinamentos.

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